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Memórias de um caixeiro viajante

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Memórias de um caixeiro viajante Empty Memórias de um caixeiro viajante

Mensagem por José Luiz Negreiros Qua Ago 04, 2021 5:47 pm

Estimados amigos.

Além do espaço para slogans, vou contar histórias de minha carreira profissional, especificamente no segmento musical (rádios e gravadoras).

As memórias de um caixeiro viajante aconteceram em minhas situações pitorescas e interessantes, que viriam se tornar em realidades inspiradoras, na minha formação de escritor e homem de comunicação.

Pretendo, também, fazer alguns vídeos, em que trataremos dessa construção emocional, que deu sentido à minha vida.

Agradeço pela atenção. Devo fazer, ainda essa semana, a publicação de uma dessas memórias.

Até lá, se Deus quiser!

José Luiz Negreiros

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Memórias de um caixeiro viajante Empty Re: Memórias de um caixeiro viajante

Mensagem por José Luiz Negreiros Qui Ago 12, 2021 12:43 pm

Quando criamos esse quadro para nossa Usina do Slogan, o objetivo era divulgar um pouco de minha vida profissional. Afinal, na luta do dia a dia, aprendi muitas coisas, como ter domínio da síntese como forma de comunicação.

Modernamente, o nome que se dá, hoje em dia, para o chamado caixeiro viajante, é o de representante comercial.

Num determinado tempo em minha carreira em vendas, trabalhei para a CID, uma simpática e valorosa gravadora, que vendia discos e fitas para o mercado da música. Eu já tinha  experiência no ramo, pois trabalhei na Chantecler, uma gravadora muito forte em música regional, pertencente ao Grupo Gravações Elétricas, que tinha, na Continental, uma gravadora mais forte que a nossa no segmento. Depois, o Grupo foi negociado para a Warner Music, um megagrupo de mídia de comunicação, especializado em cinema, tevê por assinatura, além de suas gravadoras e vários selos ligados a ela.

Vivi experiências extraordinárias nessa empresa carioca, a CID. Começo essa série, em que vou contar experiências reais, acontecidas na gravadora, pertencente à querida família Zuckerman.
Para botar brasa na sardinha, vou contar o momento mais espetacular ocorrido em minha carreira lá.

Houve em tempo em que a CID teve a feliz oportunidade de lançar, no Brasil, o grande sucesso mundial, na época. Era o Patrick Hernández, compositor e cantor, que, com Born To Be Alive, ficou no topo das paradas por quase um ano, tendo vendido, REALMENTE, cerca de 10 milhões de cópias do grande sucesso.

No meio desse burburinho todo, eu já tinha alguns meses de trabalho na CID e buscava atingir novos mercados para nossa gravadora. Um de meus alvos era fazer crescer nossa participação no volume de compras da Centro Musical (fictício), em Sorocaba-SP. A própria proprietária das duas unidades de lojas era responsável pelo abastecimento dos itens das lojas. Dona Alice (nome fictício) atendia muito bem seus fornecedores. Como eu era representante comercial de uma gravadora pequena, mas de muita garra, em minhas visitas a ela, a cada 12 dias, eu usava como estratégia inicial de conversa contar as novidades do mercado e das novidades sobre a CID. não apenas dos discos, mas dos investimentos que os sócios faziam para deixar mais forte e preparada para competir com desenvoltura no duro e competitivo do disco. O forte veio (ê) para as vendas da CID era o de oferecer discos populares, com artistas desconhecidos, que gravavam os chamados covers dos grandes sucessos. O mérito, nesse tipo de produto, era oferecer um LP com 12 músicas ao preço de um compacto simples. Tínhamos, em nossa história, também sucessos de ponta, como Donna Summer, Baiano e Novos Caetanos, Emílio Santiago, The Walkers, Barry White etc, mas os LPs populares eram o principal item de negócio da gravadora. Havia um preconceito muito grande contra os Covers, um produto já aceito em todo mundo, mas, aqui, no Brasil, a concorrência foi cruel em chamar os Covers de mutretas, codinome depreciativo para um produto honesto, pois nunca negamos que os Covers eram gravações populares, que permitiam atingir uma grande parte do público, que não tinha recursos financeiros para adquirir os discos originais.

Pois bem, naquele dia, aguardei ser atendido pela Dona Alice num tempo maior, pois, na minha frente, havia entrado o representante da Odeon, uma supergravadora, que tinha no catálogo, por exemplo, os Beatles (era o ano de 1979).
Com paciência e entusiasmo, aguardei minha vez de conversar com Dona Alice. Aqueles 45 minutos de espera foram  muito bem aproveitados por mim. Aconteceria, ali, logo mais, um negócio soberbo, que marcou minha carreira de vendedor para sempre.

SEGUE NA SEMANA QUE VEM!


Última edição por José Luiz Negreiros em Ter Ago 17, 2021 3:30 pm, editado 1 vez(es)

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Memórias de um caixeiro viajante Empty Re: Memórias de um caixeiro viajante

Mensagem por José Luiz Negreiros Ter Ago 17, 2021 3:28 pm

Saudei, alegremente, a Dona Alice. Eu teria boas notícias para passar a ela nessa reunião. A principal delas seria o lançamento do primeiro LP de Patríck Hernández no Brasil. O lançamento praticamente seria feito simultaneamente com a Europa e Estados Unidos. A partir daqui, se minha memória não falhar, vou reproduzir nosso diálogo.
_Dona Alice, a senhora está bem?
_Sim, Negreiros, as coisas vão, felizmente, muito bem. Falando em negócios, que novidade você me traz, além do lançamento do disco do Patríck?
_Dona Alice, estamos realizando um grande lançamento para o Patríck. Sabemos que a CID tem um produtão para vender. Nossas ações, portanto, serão muito fortes e vamos ampliar o sucesso de nosso contratado.
_OK, Negreiros, fale-me do plano de trabalho para o Patríck.
_Nos clientes estratégicos, como a senhora, elaboramos um excelente projeto para bombar o disco novo do Patríck. Nesse trabalho, estamos reservando o fornecimento de 1.000 LPS e 250 fitas (em verdade, na minha cabeça, eu almejava vender cerca de 600 cópias dos dois formatos).
_Negreiros, é muito disco e fita! Volume para campeões de vendas como o Roberto Carlos, por exemplo.
_Compreendo, Dona Alice, mas temos grande convicção de que o disco novo vai acontecer. Inclusive, as rádios do Brasil já estão tocando Disco Queen e To Many People, do disco novo,  com grande aceitação. Queremos estar tranquilos, abastecendo suas lojas com toda segurança.
_Negreiros, sei que o LP é bom, existem boas expectativas, mas esse volumão todo para mim é muito. Inclusive, o compacto e o disco mix de Born To Be Alive ainda estão vendendo bem. O grande público conhece o Patríck apenas por causa de Born To Be Alive. Você pode aliviar um pouco esse volume que você está me propondo e...
_Dona Alice, a senhora me permite acrescentar um detalhe importante para essa oferta?
_Oba, você vai me dar um desconto extra?
_Muito melhor que isso, Dona Alice, muito melhor que isso.
_Pois dia, então, Negreiros. Não gosto de suspenses. Isso me deixa mais ansiosa com isso.
_E se a gente trouxesse o Patríck, aqui, em sua loja principal, para fazer o lançamento do disco dele?
A Dona Alice lançou sua corpo para atrás, trombando sua bela cadeira contra a parede do escritório.
_Negreiros, Negreiros, assim seria muito diferente...
_Se a senhora me permite  que eu ligue para o Juliano, nosso gerente, vou me comunicar com ele, a fim de verificar os detalhes desse negócio explosivo.
_Ligue, Negreiros, ligue para o Juliano.
Nas comunicações seguintes, vou colocar as falas do Juliano em parênteses, pois a Dona Alice não poderia ouvir o chefe e mestre em vendas, com quem muito aprendi.
_Boa tarde!
_(Bom tarde, Juliano, tudo bem com você?)
_(Sim, Negreiros. Quais são as novidades?)
_Estou aqui com a Dona Alice e...
_(Dê um abraço na Alice...)
_Fiz isso a ela, e ela agradeceu. Juliano, o tema de nossa negociação, até agora, é o grande lançamento do LP do Patríck Hernández. Falei a ela de nosso trabalho, que estamos fazendo com o disco. Disse a ela sobre nossa oferta de 1.000 LPs e 250 fitas cassete e...
_(Negreiros, você endoideceu? Que montão de discos é esse, que você ofereceu à Alice? Só se ela comer uma parte dos discos e cassetes com farinha...)
_Mas, Juliano, deixei para o fim dessa parte da reunião, para falar da vinda do Patríck, aqui para Sorocaba, de modo a fazermos uma tarde de autógrafos na loja dela...
_(Negreiros, de onde você tirou essa ideia?)
_Estou propondo o projeto à Dona Alice, e ela adorou...
_Adorei, mesmo Negreiros, vai ser sensacional...
_Juliano, fui ousado porque que a CID já fez ações promocionais semelhantes, e a própria Dona Alice tem experiência em tardes de autógrafos com artistas brasileiros, como o LP da Joanna, jovem cantora, lançada pela RCA, para disputar espaço com a Simone...
O Juliano sacou a minha estratégia com a cliente e, rapidamente, como era comum a ele, pediu-me que passasse o telefone para que ele conversasse com a Dona Alice.
_Alice, tudo bem por aí?
_Sim, Juliano. Vai ficar melhor ainda, quando acertarmos o plano para a vinda do Patríck à nossa loja.
_Sem dúvida, Alice, vamos preparar todos os detalhes pertinentes. Mas, Alice...
_Diga Juliano...
_Preciso sua ajuda no LP da Elke Maravilha e...
_Elke Maravilha, Juliano, ela gravou um disco?
_Não necessariamente, Alice, ela é a garota da capa do LP de sucessos do momento...
_Como assim?
_O disco tem uma coletânea de sucessos, gravados por cantores do mercado alternativo. A qualidade do trabalho está ótima. Sem contar que é um produto supereconômico, que venda volumosa na certa vai gerar.
_Juliano, qual seria o diferencial de venda para esse disco? Você sabe, o LP com a capa da Elke somente poderei vendê-lo na outra loja, onde costumo promover saldões com discos de catálogo e defasados do mercado.
_ Deixei para o fim de nossa conversa, Alice. Ontem, nosso presidente, Doutor Harry, fechou um contrato com vários comerciais na Globo e na Tupi.
_Muito bem, falando em Globo, o Jô criou um personagem muito engraçado, que é o rei dos arranjos. Ele usa a fala paaaá e o outro responde paaaá, finalizando o acerto. Então, Juliano, você paaaá acerta a vinda do Patríck e eu paaaá, acerto a compra de 1200 entre o LP e a fita da Elke.
_Juliano afirmou, então, paaaá. O negócio foi fechado, e acabamos por acertar um dos maiores pedidos já feitos na minha região.

SEGUE NA SEMANA QUE VEM


Última edição por José Luiz Negreiros em Qui Nov 18, 2021 10:53 am, editado 1 vez(es)

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Memórias de um caixeiro viajante Empty Re: Memórias de um caixeiro viajante

Mensagem por José Luiz Negreiros Ter Ago 24, 2021 11:49 am

Na noite anterior a nossa viagem a Sorocaba, onde a dona Alice prepararia uma recepção a um príncipe, o Patríck havia chegado ao Brasil e já tinha feito uma apresentação ao vivo no Programa do Chacrinha, este, então, trabalhando na Rede Bandeirantes. Foi uma coisa espetacular! Fiquei impressionado com a agitação do público e pensei comigo, como uma única música poderia promover uma resposta tão espantosa a um ser humano.

Fomos eu e o Juliano ao hotel, na Rua Augusta, em São Paulo, onde o Patríck estava hospedado. Rumamos para Sorocaba. O Patríck estava com cara de quem não havia dormido direito. Mesmo assim, ele demonstrava um ótimo humor e muita animação para o evento. Infelizmente, na época, meu francês estava meio enferrujado, mas foi possível nos comunicar. O Juliano colaborou, também, comunicando-se em um bom inglês com nosso astro.

Chegamos ao Clube Leblon, onde um montão de pessoas nos aguardava. A dona Alice, entusiasmada, recebeu o Patríck com muita alegria. O mesmo foi muito receptiva a ela. Aquela recepção ao astro deve ter custado uma grana, pois computei mais ou menos em 100 pessoas participando da festa. Houve uma coquetel de boas-vindas. O pré-evento já nos deu uma expectativa de como seria a tarde de autógrafos que aconteceria logo mais.
Após o coquetel, a dona Alice ofereceu um almoço requintado, coisa cinematográfica mesmo.
Numa rápida conversa com o Patríck, ele comentou comigo que não imaginava ter uma recepção daquela grandeza, afinal, disse ele, ninguém do Brasil o conhecia, e um dos motivos dele estar entre nós foi apresentar-se para, principalmente, mostrar aos fãs brasileiros como ele era.

Depois do almoço, seguimos para a loja matriz da dona Alice. Quando vi o que nos aguardava, fiquei espantado e preocupado. Engenhosamente, dona Alice fez, nas vitrinas, a exposição de vários capas do LP do Patríck. Ela retirou todos os estandes e balcões na parte baixa do espaço, de modo a abrigar os visitantes, que teriam seus discos autografados.

O fato real, observado, foi espantoso. A loja estava completamente lotada. Havia cerca de 200 pessoas do lado de fora, não tendo meios como entrar. Vários PMs estavam lá, com a missão de dar segurança a todos.
Formou-se um cordão de isolamento. Conseguimos subir à sobreloja, onda havia um espaço para que pudéssemos ver a loja, onde estava toda aquela multidão. Dona Alice, espantada, não sabia o que fazer. Como organizar aquela gentarada toda. Sobretudo a moçada demonstrava uma euforia impressionante, com a presença do astro em carne e osso, ali, muito perto dala. Ouvia-se, acreditem, a música Born To Be Alive, o que aumentava mais ainda o ânimo dos presentes. Tive a ideia e a passei para dona Alice. Pediríamos para o Patríck cantar uma música do disco novo, essa música seria  a Disco Queen, que iríamos trabalha. Ela achou a ideia boa e pediu que eu falasse com o Patríck. Perto do ouvido dele eu disse para que cantasse em cima do  disco a Dancing Queen. Pois bem, anunciei ao público que o Patríck ia cantar ao vivo a Disco Queen, novo sucesso dele.

Resumo da história, o Patríck começou a cantar. O resultado não foi o que esperávamos. Entusiasmado, o povo queria subir à sobreloja para abraçar o cantor.
Vou reproduzir, ipsis literis, o que o comandante da PM gritou para mim:

_Tirem o homem daí, pois o público vai destruir a loja!

Armou-se, então, um esquema de saída para a saída do Patríck. O que aconteceu com segurança, graças a Deus, minutos depois.
Dona Alice, então, pediu-me para dar uma declaração à imprensa, postada na entrada da loja.
Conversei com o pessoal, explicando que não contávamos com uma reação tão contundente dos fãs do Patríck. Não fora possível fazer a tarde de autógrafos por claras razões de segurança.

Foi uma tarde inesquecível para Sorocaba. Dona Alice, apesar de não ter cumprido a realização da tarde de autógrafos, estava muito feliz pela recepção oferecida ao Patríck.

Em pensar que tudo aconteceu por causa de minha ginga de vendedor, quando coloquei em questão uma ideia arrojada, que se tornou uma marca impagável de minha memória.

https://www.youtube.com/watch?v=KP3nev7KWUY


Última edição por José Luiz Negreiros em Qui Set 09, 2021 2:44 pm, editado 1 vez(es)

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Memórias de um caixeiro viajante Empty Re: Memórias de um caixeiro viajante

Mensagem por José Luiz Negreiros Qui Set 09, 2021 2:23 pm

Um dos mestres em vendas da Chantecler, o Jairo era de uma simplicidade tocante. Decano dos vendedores da gravadora, o trabalho do colega era sempre elogiado.
Pois bem, um dia o Jairo apresentou um problema de saúde. Nada de mais grave, mas ele precisaria ser internado e se submeter a uma cirurgia. Nesse tempo, eu estava na gravadora há cerca de dois anos. Fora contratado para ser auxiliar de vendas, com responsabilidade de cumprir uma rotina de trabalho administrado não necessariamente maçante, mas que exigia de mim uma boa concentração, para não cometer erros. Eu e meu colega Claudino trabalhávamos como auxiliares do setor, Nosso chefe era o senhor Silvino, que estava na Chantecler havia mais de 25 anos. O senhor Silvinho  não era de muita conversa, embora trabalhasse em vendas, setor normalmente mais animado de uma empresa.
Com o Jairo necessitando de uma licença de cerca de 20 dias, fui surpreendido pela decisão de meu chefe, para que eu substituísse nosso amigo. Tanto o Claudino como eu atendíamos clientes, que, eventualmente, vinham à gravadora e aproveitavam para fazer uma compra conosco. Tínhamos uma mesa especialmente destinada a esse atendimento. O móvel tinha gavetas espaçosas, para abrigar os catálogos dos discos da Casa.  Com um tempo não muito longo de Chantecler, não conhecia profundamente os discos da gravadora. E, para vender os discos do catálogo, eu precisaria ter um mínimo de informação para passar aos clientes e, evidentemente, tirar um pedido razoável de discos.
Discos de catálogos são aqueles que fizeram sucesso ao longo do tempo, mantendo uma procura dos lojistas. Para o pessoal da Usina sacar, vou citar alguns importantes discos da Chantecler, que se mantinham atuais e amealhavam vendas consistentes:
Teixeirinha, Coração de Luto. Sucesso dos anos 60, vendeu no seu auge cerca de 1.000.000 de cópias. Um dos maiores fenômenos da música regional de todos os tempos. Para quem não se lembra, segue o link da música: https://www.youtube.com/watch?v=aua3Yjwco7M ;
Luis Bordón- Jingle Bells- Um dos maiores harpistas do Brasil, embora fosse paraguaio, fez uma versão maravilhosa para o clássico natalino, garantindo vendas expressivas a cada novo natal: https://youtu.be/hBydBkHuAJA ;
Giane, Dominique. A Simpática e competente cantora gravou a versão de Soeur Sourire  (Dominique) e foi um estouro, mesmo depois de 10 anos do lançamento do disco: https://youtu.be/bU3sgD0fnns ;
Lourenço e Lourival, Como eu Chorei. Definido o estilo da música, como ritmo jovem, a dupla sertaneja alcançou as maiores alturas com essa canção: https://youtu.be/r6LlFvOoZ-0 ;
Tião Carreiro e Pardinho, Rio de Lágrimas.  https://youtu.be/FxXXvPL3JIg ;
Para completar o rol de estrelas, Earl Grant, The End.  https://youtu.be/P67JLghDj7A .
Na época, tínhamos o grande sucesso das paradas, o Carl Douglas, Kung Fu Figthing.  https://youtu.be/bmfudW7rbG0  .
É bom destacar que o grande acervo em músicas sertanejas, com duplas consagradas, a Chantecler se defendia muito bem no mercado, apesar de ser menor que a irmã mais graúda, a Continental.
Fui avisado dessa missão na sexta-feira, depois do almoço. Eu deveria partir para as visitas aos clientes já na segunda-feira seguinte. O setor do Jairo era a região central de São Paulo. Eu poderia fazê-lo a pé e se fosse necessário, usaria os ônibus urbanos para visitar os bairros vizinhos ao centro. Peguei uma pasta para transportar os discos novos e, também, o catálogo de discos e fitas. O catálogo consistia em ter capas de discos e fitas e selos dos compactos simples e duplos. Houvesse capas especiais desses itens, eu teria as capas deles também.
Foi um fim de semana anormal para mim. Eu estava preocupado com minha experiência quase zero de atender clientes. Não dormi bem nas noites do fim de semana.
Segunda-feira chegara. Eu não precisaria passar pelo escritório da gravadora. Eu iria diretamente ao primeiro cliente e depois atender outros, reservando o final da tarde para estar na Chantecler, para tomar providência de emitir relatórios, encaminhar pedidos e outros detalhes relacionados. Eu tinha 20 anos de idade e muito receio de como eu me sairia nessa primeira experiência de vendedor.

CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA.


Última edição por José Luiz Negreiros em Qua Mar 20, 2024 11:36 am, editado 1 vez(es)

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Memórias de um caixeiro viajante Empty Re: Memórias de um caixeiro viajante

Mensagem por José Luiz Negreiros Qui Set 30, 2021 3:29 pm

A segunda-feira iniciou com meu contato comercial na casa do cliente. O fato curioso é que seria a primeira visita ao cliente, que se comunicou com nosso departamento de vendas, pois desejava ser cliente direto da Chantecler, pois, até então, o Flávio, nosso novo cliente, tinha como rotina pegar os discos do atacadista. Como o Flávio tinha um volume de vendas ainda abaixo do que ele lutava para evoluir, decidiu que sua primeira compra direto com uma gravadora seria com a Chantecler. O Flávio não imaginava que o vendedor da gravadora seria eu, um novato na função.
Cheguei ao Largo da Concórdia, onde havia e há uma estação ferroviária. Nos dias modernos, os trens suburbanos ocupam a maior parte da grade de percursos. No entanto, nos anos 1930 e  1960, a estação era o destino final de nossos irmãos, vindos do Nordeste brasileiro.
Na época, o Largo da Concórdia era de uma feiura de doer. Hotéis pavorosos, sendo a maioria no sistema pá-tóin-pá. Um hotel de grande sucesso nesse tipo de negócio era o Hotel Meu Reposo, assim mesmo. A prostituição era disseminada em todos os cantos da área. Os bares no entorno do Largo eram mais um  feio que os outros. Havia outras lojas de discos por lá, mas minha missão era atender o Flávio.
O prédio onde estava instalada a loja do Flávio era extremamente precário. Na parte térrea desse existiam alguns pontos de comércio, dos mais variados, porém sempre voltados a atender o povo humilde que transitava por lá. Os pavimentos superiores do prédio eram restritos a sabe lá quem.
Ao chegar à loja do Flávio, notei que seu espaço comercial era de uma singular esquisitice. Os quatro lados da loja eram formados com discos disponíveis à venda. Não se tratava especificamente de vitrinas e sim o material disponível para vendas. O Flávio ficava no meio da loja. Ali havia um balcãozinho de madeira, por onde ele saía e atendia clientes  e demais interessados. Não medi, exatamente, a área da loja, mas, provavelmente não passava 6 metros quadrados. Nem Victor Hugo imaginaria um estabelecimento desse tipo em seu sucesso Os Miseráveis.
Fui recebido com cortesia e entusiasmo pelo Flávio. Pude perceber que se tratava de um especialista do nosso ramo.
_Flávio, bom dia, sou José Luiz, da Chantecler, e vim atender a seu chamado. Agradeço a você por mostrar interesse em trabalhar conosco.
_O prazer é meu, José Luiz. Vejo que você um jovem vendedor.
_Tenho quase vinte anos, Flávio. Em verdade, trabalho como auxiliar de Vendas da Chantecler. Tenho o prazer de visitar você hoje. Nosso vendedor, Jairo Pires, fez uma cirurgia, deu tudo certo, mas ele terá de ficar em repouso por cerca de 30 dias. Nem período, vou dar máxima atenção a nossos clientes, com o objetivo de fazer um trabalho parecido com o do Jairo.
_Vejo que você é um rapaz com jeito para a coisa, Sucesso a você!
_Obrigado. Vamos ver nosso material de catálogo e lançamentos, Flávio?
_Sim vamos ver, José Luiz. Pena, eu não tenho melhor espaço para oferecer a você.
_Tudo bem Flávio. O balcão me permite colocar o material de trabalho para você.
A partir do discurso apresentado, eu iria iniciar o trabalho de meu primeiro pedido do Flávio a Chantecler. Posso dizer que foi uma experiência rica e muito proveitosa.

CONTINUA

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Memórias de um caixeiro viajante Empty Re: Memórias de um caixeiro viajante

Mensagem por José Luiz Negreiros Qui Nov 11, 2021 10:19 am

Cerca de uma hora depois, o Flávio terminou de escolher os discos que ele iria comprar conosco. Esse período despendido foi bastante agradável. Trocamos muitas informações sobre o material da Chantecler, e eu fui anotando os discos pedidos pelo cliente. Nesse tempo, surgiu um amigo do Flávio, que participou também da conversa. O nome do senhor era Fulgêncio. Ele estava muito interessado, alegre em participar e também pelo efeito de nossa bebida nacional, carinhosamente conhecido como branquinha.
Eu estava desconfiado que o pedido feito pelo Flávio tinha um problema sério para ser atendido, já que a quantidade total dos discos estava abaixo do mínimo de que precisávamos atingir para gerar a encomenda.
Fiquei muito preocupado de como falar isso para o Flávio. No entanto. eu não poderia sair da loja sem um pedido feito fora das regras da gravadora. Não havia outro jeito para resolver o problema, sem deixar ser muito objetivo com o cliente. Seria algo de rotina no processo, não fosse eu o vendedor, um cara que estava tirando seu primeiro pedido como representante do Setor A1 Centro da Chantecler.
_Flávio, observei agora que seu pedido não atingiu a quantidade para ser atendido pela gravadora...
Alguns eternos segundos se passaram, até que o Flávio se manifestou.
_Não dá para atender, então, o meu pedido?
Antes que eu me manifestasse, o Flávio sentenciou...
_José Luiz, dobre a quantidade, então, de meu pedido.
Nesse momento, em minha mente eu ouvi o Messias de Haendel, aquela música do Aleluia, Aleluia!
_Obrigado pela sua compreensão, Flávio. Sou muito grato por fechar esse primeiro pedido com você. Certamente você será muito feliz com o sucesso de sua loja. O que estiver ao alcance da Chantecler, tudo faremos para contribuir à sua luta em consolidar o sucesso vindouro do seu projeto. Muito obrigado!
_Muito obrigado por suas palavras, José Luiz. Nós nos conhecemos hoje, e percebi seu entusiasmo em me atender. Infelizmente, o pedido não é grande, mas fico feliz em ter sido seu primeiro cliente.
_Para mim, Flávio, seu pedido foi uma conquista para mim e a Chantecler. Daqui três dias, seu pedido será entegue.
_Aguardarei ansioso a chegadas dos discos.
O dia, depois, seguiu normalmente. Fiz outras visitas, não me lembro quantas, mas foram mais de seis. Tirei outro pedido, de proporção maior. Mas a lembrança do primeiro foi marcante em minha carreira de vendedor. 46 anos depois, ainda guardo a emoção e a alegria de meu primeiro negócio.

CONTINUA

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Memórias de um caixeiro viajante Empty Re: Memórias de um caixeiro viajante

Mensagem por José Luiz Negreiros Sáb Dez 25, 2021 1:28 pm

A experiência de trinta dias como vendedor foi muito gratificante. Aprendi muito, fiz novos amigos e voltei à rotina administrativa de vendas como ânimo renovado.
Porém, vale o esforço de contar a última experiência nesse trabalho, que se transformou um marco valioso de minha carreira de vendedor.
No período de  cerca de 30 dias de minha missão na rua, substituindo o senhor Jairo Pires, estive duas vezes visitando a Geração Discos, o maior atacadista de discos e conexos do Brasil. Foram duas visitas rápidas, pois o Geraldo, comprador, tinha um trabalho enorme, todos os dias, para manter a Geração em ordem e cumprir seus objetivos de vendas diários. Na primeira visita, não tirei pedido, já que o Geraldo me informara que o estoque de discos Chantecler na lojona estava nos padrões normais. Na segunda visita, porém, tirei um pedido que redundou em reposição de discos de Milionário e José Rico e outro tanto de discos de outros artistas nossos, como Earl Grant e seu pé quente compacto duplo (continha 4 músicas), o qual tinha o clássico The End se mantinha firme e forte em suas vendas regulares. Foram cerca de 300 discos vendidos. Fiquei bastante entusiasmado. Foi meu maior pedido nesse trabalho de vendedor substituto.
Pois bem, terceira e última visita, fui chamado a um canto da loja pelo Geraldo, que me transmitiu a seguinte informação.
_Zé Luiz, seu Rafael está muito triste com a Chantecler...
_Uai, por que, Geraldo?
_Você sabe, seu Rafael é dono da Gravadora Copacabana e tem uma bom acesso para saber as coisas que acontecem no mercado.
_Que aconteceu então, Geraldo?
_Ele soube que a Chantecler forneceu um grande volume de discos para nossa concorrente, coisa de 4.000 entre LPs e compactos...
_Não tive conhecimento sobre isso, Geraldo. Vou checar isso e lhe informo o mais rápido possível.
_Zé Luiz, o seu Rafael leva as coisas sempre para o lado emocional. Ele se sentiu discriminado pela Chantecler, que não lhe ofereceu um Plano desses para a loja dele...
_Geraldo, vou checar essa informação e retorno a você, rapidamente. Amanhã é meu último dia do trabalho de substituição ao seu Jairo Pires, mas vou checar.
_Zé Luiz, espero que você não esteja encobrindo esse negócio comentado.
_Geraldo, sou novato como vendedor de rua. Aprendi muita coisa nesse tempo. Mas, de antemão, não soube dessa venda grande da Chantecler. Mesmo porque, se a Chantecler fosse negociar algum pedidão com sua concorrente, certamente, a Gravadora faria, também, uma oferta parecida a sua empresa.
_Confio em você, Zé Luiz. Aguardo seu retorno.
_Geraldo, se eu não tiver uma resposta ainda amanhã, na segunda-feira que vem o Jairo estará de volta, para prestar-lhe todos os esclarecimentos. Obrigado pela sua confiança, Geraldo.
_Zé Luiz, você é um novato, mas você me passa uma segurança das coisas que fala.
Na sexta-feira, enfim, conversei com meu supervisor de vendas. O senhor Fúlvio, ciente de minha informação, teve uma rápida reunião com o senhor Sitani. Em verdade, existia uma negociação com a concorrente da Geração Discos, mas a mesma não estava, efetivamente, fechada.
Na segunda-feira, muito bem de saúde, graças a Deus, o seu Jairo Pires voltou ao trabalho e fez visita ao Geraldo, esclareceu tudo e se colocou ao dispor do Geraldo e da Geração Discos para abrir uma negociação de um pedido grandão. O nome que o pessoal do setor usava para a amplidão do negócio como Plano.
Na terça-feira seguinte, o seu Jairo voltou à Geração Discos e fechou um pedidaço de 4.000 discos, o qual teve contemplado um prazo de pagamento de 120 dias data para pagamento e com um desconto de 8% no melhor preço de venda normal.
Assim que trouxe o pedido na casa, estavam lá os outros 4 vendedores nossos da Capital, ele falou com alegria.
_Rapaziada! Fechei um Plano com a Geração Discos para compra de 4.000 discos. Sabem que me ajudou muito nesse negócio todo?
_Quem, quem, Jairo?
_Esse garoto ruivo, sentado ali. A segurança para sanar as dúvidas nesse processo deixou o Geraldo tranquilo. Nossa oferta foi muito boa, dentro dos padrões que a Chantecler nos permite.
O Zé Luiz vai longe!
Exagero de meu querido amigo.

José Luiz Negreiros

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Memórias de um caixeiro viajante Empty Re: Memórias de um caixeiro viajante

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