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Folhetins do Tio Zé - Troca de Mundos

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Mensagem por Admin Sex Mar 29, 2024 12:06 pm

“TROCA DE MUNDOS”

Folhetins do Tio Zé - Troca de Mundos Tm11

Imagem Original:
https://canaltech.com.br/espaco/como-diferenciar-estrelas-planetas-e-satelites-no-ceu-noturno-212862/


José Luiz Negreiros
Escrito em outubro de 1.980
Revisado em 27/02/24


Entrei no Centro das Convenções Universais. Um lugar inimaginável até então. Daqui partem as coordenadas para o equilíbrio do universo. Poder-se-ia dizer que, naquele local, nasceu tudo. O mundo com seus interiores e exteriores. Caminhei em direção a sua primeira plataforma. Bela, perfeita. Plana como os litorais. Branda como os sertões. Viva como as capitais. Aconchegante como os lares. Este centro celestial conhecido como Céu. Nele, todavia, ficam os seres terrestres em sua nova vida. Os espaços do lugar são semidesertos. Percebe-se uma profunda tranquilidade. A paz é permanente, compondo o ambiente da vida local. Estou conhecendo o primeiro departamento deste centro de geração e controle do universo.

Caminhando em direção aos interiores de uma admirável obra arquitetônica, vou ficando encantado com a magnitude dos elementos, que compõem a maravilhosa casa. Encontrei algumas pessoas vagando tranquilamente nos corredores e cômodos, que antecedem  ao gabinete principal do palácio. Essas pessoas carregam documentos em seus braços. Outras conversam animadamente pelos cantos do lugar. Ouve-se uma música sublime. De dinâmica surpreendente, delicia a todos com suas frases sonoras. A magia da canção toca a todos profundamente, até as últimas células da epiderme.

Em uma sala ampla, decorada em cores suaves, com móveis bonitos e robustos, deparo-me com um enorme aparelho, eletrônico, talvez, onde, em seu centro se situa uma  grande tela, provavelmente de duzentas polegadas. No painel, vários botões e outros aparelhos de controle. Logo abaixo, há uma cadeira moderna, giratória e estofada, que deve servir de assento para o operador do espetacular complexo eletrônico. O aparelho está desligado; e a sala, vazia. Não me foi possível perceber em que período do dia eu me encontro. Há luz, naturalmente. A temperatura é deliciosamente amena, e há um cheiro de natureza no ar. Não vejo ninguém nas cercanias do lugar. Pelo menos por enquanto.

Muitos minutos devem ter se passado, É impossível precisar. Não tenho como registrar o tempo. Não trouxe relógio, e a luz de fora é uniforme, e se torna impraticável calcular  as horas do dia  pelo centro emissor de luz.

Ouvi passos firmes de alguém, caminhando em minha direção. Em poucos segundos, a pessoa chega à sala e caminha rapidamente rumo à engenhoca eletrônica. Não foi possível ver seu rosto. Ele entrou direto aos controles e, agora, os aciona. A máquina começa a funcionar. Mas que coisa assombrosa! As imagens captadas pelo aparelho mostram cenas de nosso sistema solar! Vemos o Sol, os demais planetas, e a Terra! Com quanta nitidez vemo-la em sua forma esférica. Aproximei um pouco mais do aparelho, para presenciar com maior clareza as imagens recebidas pelo vídeo. O homem ao lado, entretido com as cenas, nem percebe minha presença. E continuei extasiado, acompanhando as novas imagens estampadas na tela. Com uma aproximação espantosa, vejo imagens do Oceano Atlântico. O aparelho vai varrendo a área rapidamente até captar imagens de algum lugar na região oeste dos Estados Unidos. Parece-me ser São Francisco. Aquela ponte monumental, que enxergo agora, tudo indica que só pode ser dessa cidade. Nesse momento o zoom aproxima mais e vejo com absoluta nitidez um cruzamento de duas grandes avenidas americanas. Parece-me que algo de anormal está ocorrendo no lugar. Noto as imagens de dois automóveis colididos. Causou-me espanto a atitude de um dos condutores daqueles veículos, que está muito exaltado com o ocorrido. Forma-se, rapidamente, um aglomerado de curiosos espectadores. Agora, consigo ouvir com clareza as palavras proferidas pelos dois envolvidos no acidente. Está acontecendo! Um deles vai às turras com uma arma na mão. Há o embate, o tumulto. Repentinamente, ouve-se um tiro abafado e poderoso. Acontece um princípio de pânico na luta. O agressor tenta fugir, mas é contido pelos braços dos espectadores. A polícia chega e registra o acontecido. E do lado daqui, percebi um ar de resignação e desconsolo do homem que viu tudo também. Em seus olhos se nota marejamento rápido e incontrolado. Seus cabelos parecem com fios de cores mais alvas, assim como em sua barba.  Aquele fato parece ter chocado profundamente o coração daquele senhor.


Por Deus, este homem é o Cristo! O Jesus Cristo que tanto eu venero e rogo preces diárias. Então é isso! Ele acompanha nossos atos todos os dias! Dessa imensa janela eletrônica, ele vê o nosso mundo, tão confuso e conturbado com o qual  nos acostumamos conviver. Causou-me imensa admiração em saber que dessa sala, naquele aparelho, nosso irmão mais forte e poderoso nos observa todos os momentos de nossas vidas.

Após aquela lamentável cena, Jesus trouxe a imagem da Terra de volta ao plano geral, em que nessa condição eu pudesse não ver nada, além que os oceanos e os continentes.

Neste momento, alguém empurra a porta e se anuncia:

_Olá, Jê, como vai?

_Olá, meu caro Sereno, sabe, não muito bem. As atitudes de nossos irmãos da Terra ainda me magoam muito. Às vezes, dentro de meu ser, sinto imenso arrependimento em ter estado lá um dia. Mas, ao mesmo tempo, tudo isto me inspira um grande piedade pelo destino daquelas criaturas.

_Realmente é de inconformar, Jê. De fato no plano filosófico, a evolução do homem tem sido nula desde quase dois mil anos após sua ida à Terra.

Enquanto eles conversam concentradamente, pasmava-me a não percepção de minha presença em seu convívio. Parecia que era um mero espectador, sem condições mínimas de participação naquele meio celestial.

_Sabe, Sereno, é incrível o ciclo de evolução e involução social na Terra. Os homens não se entendem, entram em atrito, criam pavorosas guerras, apagam as cinzas da batalha, enterram  seus mortos, sacramentam sua paz, mas, logo em seguida começam a manipular novas contradições. Pena que o Grande Mestre não me tenha autorizado, ainda, senão já estaria eu, lá, novamente, redemonstrando os caminhos da paz e compreensão.

_É, Jê, mas você conhece bem o nosso Grande Mestre. Ele insiste na autodeterminação dos povos da Terra. Ele deu direito a eles de construírem suas vidas dentro de uma moral bem doutrinada por você, quando de sua estada com eles. Se esses povos não conseguem encontrar um denominador de coexistência e fraternidade, provavelmente eles sucumbirão, como outros que nós conhecemos.

_Mas, Sereno, o povo da Terra tem grandes qualidades! O que falta apenas é mais um trabalho no sentido de fazê-lo compreender a razão. Creio estar próxima a data da conciliação terrena. Uma das duas visões de ver o mudo deverá prevalecer. A própria ecologia e as reservas de recursos pressionarão o povo terráqueo a um plano de justiça social, que lhe dê a sobrevivência.

  _Não se esqueça, Jê, que duas forças conflitantes existem em  qualquer lugar do contexto universal. Portanto, duas visões permanentemente opostas fazem parte do processo natural das coisas. Todavia, não podemos esquecer que eles desenvolveram poderosíssimas armas, que podem aniquilar do planeta em poucos minutos.

  _Puxa, mas a Terra é apenas uma célula nesta grande fortaleza infinita, que é o universo. Eu cansei de dizer isso a eles, quando da minha estada lá.

   _Concordo, Jê, mas infelizmente é óbvia a mesquinhez e a teimosia do homem nesse aspecto.

    _O problema, Sereno, é que a situação da Terra não pode permanecer na forma que está. Eu, como responsável por esse departamento universal, tenho que zelar para que a criatura humana não arruíne tudo. Ademais, nosso Grande Mestre permanece em constante expectativa, no sentido de ver a Terra harmoniosa, próspera e feliz.

     _É, meu caro irmão Jesus, Cristo dos homens. Os mesmos problemas que você enfrenta, eu tenho comigo os meus todos os dias. O meu departamento, Planeta Montanha, embora com males de características diferentes, também me traz grandes preocupações. Da mesma forma que você, medito horas e horas, tentando encontrar uma solução eficaz para os empecilhos daquela gente. Veja você que o tédio e a desesperança são os grandes fatores negativos na vida dos montanháqueos. Embora não sofram de injustiça social e outros afins menores, as duas causas que eu citei produzem um efeito altamente danoso na vida dessas criaturas.

   _De fato, Sereno, estes nossos problemas parecem ser constituídos de uma essência verdadeiramente indecifrável.

     Abismado com o surpreendente diálogo ali proferido, fiquei observando a saída dos dois senhores rumo  ao corredor, onde certamente dali partiriam em direção ao encantador jardim do palácio, local próprio e mais inspirador para o aprofundamento de suas meditações.

   Após ouvir aquela impressionante conversa, fiquei pensando que sombrios caminhos nossos povos poderão trilhar, daqui para frente.

       Agora percebo os dois reunidos no jardim, através da imensa sala de operações de Jesus. Como sou imperceptível (pelo menos não o fui até agora), caminharei ao encontro dos dois, para acompanhar o desfecho daquele diálogo parafilosófico, se é que eu possa considerá-lo assim.

        _Sabe, Jê, estive pensando. Você pode notar que através da história, os grandes males que enfrentamos são solucionados com atitudes das mais simples, não é mesmo? Portanto, ocorreu-me agora uma ideia, que, à primeira vista, pode parecer esdrúxula e estapafúrdia. Que tal se trocássemos nossos mundos?

        _Que foi que você disse, Sereno?

      _Permutar, trocar nossos astros. O planeta Montanha passaria a integrar o seu sistema solar, ao mesmo tempo em que a Terra passaria a girar no sistema solar do meu departamento.
        _Ora, ora, você não está raciocinando bem, Sereno! Primeiro porque essa ideia é uma ideia absurda, Segundo, porque é completamente inviável. Não se esqueça de que a distância entre nossos dois sistemas é incomensurável. Terceiro, não entendi nada desse objetivo formulado por você.

      _Acontece, Jê, que antes de lhe propor esta troca, eu já vinha meditando bastante a respeito. Perceba bem que, através desses muitos anos, vimos acompanhando detalhadamente a ação de nossos povos em suas vidas. Não constatamos, absolutamente, nenhuma demonstração efetiva de aprimoramento em suas concepções básicas. Quanto ao sentido em si da mudança, esta, tem, por princípio, características  físicas e filosóficas. No aspecto físico, as condições de energia do meu sistema serão bem mais eficientes para uma melhor produção agrícola e para a saúde dos seus habitantes. O seu sistema, no caso, não prejudicaria em nada meu povo, que, mais evoluído, saberia adequar suas necessidades básicas às condições de energia do sol de seu departamento. Agora, a questão principal, isto é, à de conotação filosófica, tem fundamental importância. Você destacou bem o problema da distância entre os nossos dois sistemas. Realmente, esta viagem permutável duraria um tempo desconhecido. Nosso Grande Mestre comandaria esse remanejamento da mudança. No entanto, quando nossos povos perceberem que algo de extraordinário estiver acontecendo, provavelmente irão rebuscar seus conceitos científicos e filosóficos, para compreender o porquê disso tudo.

          _Não pare, Sereno, continue dissertando.

      _Naturalmente, durante essa viagem, em tese, nossos planetas poderiam sofrer sérias variações climáticas, que fatalmente causariam transtornos e desequilíbrios de toda ordem aos sistemas. Mas, com a supervisão do Grande Mestre…

                   _Entendi, Sereno, você não pretende que essa permuta venha alterar o dia a dia normal de nossos povos. O que você quer é que eles percebam a grande transformação que está ocorrendo, daí…

         _Exato, o que eu penso é que nossos povos querem é uma nova prova concreta da existência do poder divino. E nada melhor que uma chacoalhada dessas para tirar as teias de aranha de suas cabeças.

                    _Mas como conseguiremos este intento, Sereno?

       _Quer dizer que você concorda com a permuta?

       _Sem dúvida parece ser uma solução pelo menos para as próximas centenas de anos da História, acredito. Ademais, creio  que essa experiência já foi efetuada num outro sistema, só que em distância infinitamente menor.

        _Jê, você diz aquela de Magnon e Sibelium? Ora, aquela jamais se comparará com nosso empreendimento. Quanto à forma de conseguirmos nossa transição, já marquei, para logo mais, uma audiência com o Grande Mestre e com o Conselho Páter Universal, para pormos em prática nosso plano, o mais breve possível.

     Esse incrível diálogo me deixou, mais uma vez, extasiado. A que grande revolução celestial seria submetida a nossa Terra? Mas, aprovaria a tese o Poder Supremo Universal? É o que constataremos daqui para frente.

Num imenso e majestoso salão, belo e aconchegante, vou encontrar uma grandiosa mesa em forma de arco, dotada de sessenta e oito cadeiras em sua volta, tendo, logo acima, como num tribunal, uma mesa também grandiosa, dotada de uma artística cadeira, construída com material de lei.

Os lugares começam a ser vagarosamente preenchidos. Vão chegando um a um, os altos conselheiros e, logo em seguida, o Grande Mestre, aquele que acostumamos chamar de Deus, o Pai, Onipotente, Onisciente. A  emoção que me encobre é profunda, indescritível. Vivo um momento único, inusitado, maravilhoso e belo.

Chegam ao palácio Jesus e Sereno. Os dois vão se postar no centro do arco, a uns dez metros do local, onde se encontra o Grande Mestre. E começa a audiência.

_Dizei-nos, caros delegados Sereno e Jesus, o motivo desta agradável reunião.

_Eu gostaria de deixar a apresentação a cargo apenas de Sereno, se assim o Senhor o permitir, Grande Mestre.

_Pois assim seja, meu fraterno delegado. Conduza, pois, Sereno, as exposições desta reunião.

_Grato, Grande Mestre. Nossa vinda ao magnânimo seio do Conselho Páter tem, como objetivo, apresentar a proposta de permuta dos Planetas e Terra em seus respectivos sistemas solares.

_Que motivos tu exporias para justificar esta reivindicação, caro delegado Sereno?

_Grande Mestre, senhores conselheiros. Tanto a Terra como Montanha, embora com a nossa fervorosa expectativa contrária, caminham para destinos irremediáveis sombrios. Através do dia a dia, a observarmos, eu e o meu irmão Jesus, as atitudes de nossos povos, vamos concluindo que é necessário alterar radicalmente alguma coisa, para que nossos irmãos menores reencontrem seus  verdadeiros caminhos.

_Por que ambos não voltam aos seus planetas e repraticam a nossa doutrina?

_Não é ser pessimistas, Grande Mestre. Sem dúvida seríamos gozados, desacreditados por eles, e isto somente contribuiria para o agravamento da questão.

_Vós não credes mais em vossas capacidades doutrinárias?

_Não é isso, Grande Mestre. Com o passar dos anos, tanto na Terra como em Montanha, nossos povos se sentem por demais autossuficientes e donos da verdade, essa gente entenderia ser ridícula a reaparição de seus pastores. Eu e Jesus temos certeza de que essa permuta trará grandes esperanças para nossa gente.

_Vós entendeis assim?

_(Em uníssono) Sim, Grande Mestre.

O Grande Mestre dirige seu olhar para cada um dos conselheiros e depois profere o parecer definitivo.

 _Se vós assim o quereis, assim seja.

_(Jesus) Com todas as garantias de segurança para todos nesta viagem de incontáveis anos, Grande Mestre?

 _Naturalmente, meus queridos delegados. Como eu proferi, meus queridos. Assim seja. Para que ocorram os impactos esperados em nossos irmãozinhos, vou estabelecer um tempo de duração do fenômeno em quarenta anos. Essa distância é baseada em dois eventos ocorridos em seus departamentos, como documenta a Bíblia de cada um de vocês. A saga de Moisés na Terra e a aparição maciça de anjos em Montanha, que também durou quarenta anos.


 Os dois delegados de Deus deixaram rapidamente o palácio e caminharam mais do que apressados em direção às salas de operações (e eu atrás).

 Pouco depois, Jesus se encontrava operando seu sistema. Na grande tela, com um rápido e eficiente zoom, começamos a ver imagens da Terra. As lentes se aproximam para um lugar por mim conhecido. Estamos vendo um grande equipamento de observação dos céus. Em seu interior, um cientista está com seus olhos fixados nas lentes do poderoso telescópio, onde ele permanece estático, cerca de quatro horas (Há um relógio grande na parede do observatório).  Curioso com o com o comportamento daquele senhor, outro funcionário do instituto locado no Deserto de Atacama, no Chile, aproxima-se dele e diz:

 _Ei, Alberto, faz um tempão que você está aí, grudado no visor desse telescópio. O que há? Por acaso você viu a Marilyn Monroe vestida de anjinho, tocando harpa? Vamos embora, que está na hora do jantar!

    _Roberto, estou estupefato! Você nem vai acreditar o que eu descobri!

    _Uma nova  estrela?

    _Não! Nós estamos viajando!!!


FIM

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